Ah, a decisão de dar o grande salto! Sair do conforto de um sistema monolítico para a arquitetura de Event Sourcing (ES) não é uma simples troca.
Estamos falando de redefinir como o seu negócio pulsa, como ele se revela e como cada ação é para sempre auditada.
Muitos guias arranham a superfície, ignorando o abismo entre um estado transacional único e um registro imutável de fatos.
Eu sei o que você está pensando: “Por onde começar?”. Calma. Este não é mais um daqueles artigos genéricos.
Construí este guia com a solidez de quem já esteve lá, combinando o que há de melhor no mercado com uma visão original e profunda.
É um mapa, um farol, para que sua migração segura de aplicações monolíticas para arquitetura de Event Sourcing seja pautada na confiança.
Comece antes do código
O verdadeiro trabalho começa bem antes de você digitar a primeira linha de código para a sua Event Store. Ele reside na compreensão da paisagem do seu monólito.
Um erro clássico? Encarar o Event Sourcing como uma varinha mágica para todos os problemas arquitetônicos existentes.
Pelo contrário, ele amplifica a necessidade de um Domain-Driven Design (DDD) robusto.
Nossa experiência grita: a falta de clareza no domínio é o principal sabotador de qualquer migração para Event Sourcing que se preze.
Qual dor realmente importa?
Não caia na armadilha de focar apenas na dor superficial do sistema legado. Auditoria lenta e fluxos confusos são importantes, sim.
Mas para uma migração segura de aplicações monolíticas para arquitetura de Event Sourcing, precisamos ir mais fundo.
O segredo aqui é desvendar os invariantes de negócio que o modelo transacional atual está, talvez, violando ou gerenciando mal.
É neles que mora a verdadeira riqueza que a arquitetura de Event Sourcing pode oferecer.
O termômetro da prioridade
Para saber qual parte migrar primeiro, que tal um pequeno “termômetro de prioridade”? Apresento o Eixo de Necessidade de Histórico (ENH):
- Auditoria obrigatória (peso 3): Aqui, o Event Sourcing brilha! Pense em transações financeiras. A não-repúdio e a trilha completa são requisitos críticos.
- Complexidade do estado (peso 2): Se seu domínio exige múltiplas verificações de estado, o monólito sofre. O Event Sourcing abraça essa lógica complexa.
- Necessidade de reconstrução (peso 1): Cenários onde novas funcionalidades clamam por um entendimento do estado passado que seu banco de dados atual não entrega.
Imagine seu sistema de gestão de inventário. Se a dor é só lentidão na busca, um CQRS básico pode resolver.
Mas se a questão é saber exatamente como o estoque chegou a zero, passando por múltiplos depósitos, isso é um invariante crítico.
Nesse caso, o Event Sourcing é o caminho. Cada transferência é um evento imutável, uma verdade registrada para sempre.
Como ouvir o legado
O objetivo inicial não é uma reescrita massiva, mas sim aprender a escutar seu monólito em tempo real.
Não é apenas adicionar um EventPublisher qualquer. É uma estratégia de “dupla verificação de fatos”.
Pense no seu monólito como um paciente. Você não começaria removendo órgãos vitais, mas implantando sensores (publicadores de eventos).
Esses sensores registram cada “batimento cardíaco” (transação) sem alterar o ritmo atual do sistema.
Para evitar um emaranhado maior, a publicação de eventos precisa ser desacoplada e, atenção, transacionalmente segura.
Idealmente, use triggers de banco de dados ou hooks pós-transação. Se a escrita no banco falhar, o evento jamais será emitido.
A dança das duas verdades
Aqui, meu amigo(a), o jogo fica sério. Esta fase da migração segura de aplicações monolíticas para arquitetura de Event Sourcing é, talvez, a mais traiçoeira.
Ela nos força a lidar com duas fontes de verdade concorrentes: seu velho sistema legado e as novas projeções baseadas em eventos.
O sucesso depende da sua maestria em sincronizar e construir projeções que sejam simplesmente impecáveis.
Um novo olhar perfeito
Construir projeções paralelas não é meramente ler eventos e jogar dados em um banco novo. É muito mais do que isso.
É recriar toda a lógica do estado anterior, mas agora, a partir do fluxo ininterrupto de eventos gerados.
O maior risco? A dessincronização, seja no carregamento inicial do histórico ou no momento mágico de ativar o dual-write.
Validando sua nova projeção
Que tal um framework para garantir que suas projeções sejam espelhos perfeitos da realidade?
- Carregamento histórico: Gere o estado completo do passado a partir do monólito. Este estado inicial pode ser um
SystemBootstrapEvent. - Validação transacional cruzada: Durante o dual-write, execute uma rotina de comparação em lote. A meta? Divergência abaixo de 0.01% por uma semana.
Imagine a cena: um pedido está como PENDING_PAYMENT no legado. Mas sua projeção teima em dizer PROCESSING.
O que aconteceu? Um evento foi emitido, mas sua projeção falhou ao processá-lo.
Este é o tipo de divergência que precisamos caçar com um rigor quase que obsessivo.
A transição gradual da leitura
Mover as leituras para suas novas projeções exige a mesma cautela de um Canary Deployment. Seu código legado não vai desaparecer.
Ele será, aos poucos, ignorado. Pense no legado como um mapa de papel e na projeção como um GPS moderno e dinâmico.
No começo, você consulta o mapa para confirmar cada curva que o GPS sugere.
Essa transição acontece em etapas:
- 5% do tráfego: Totalmente no legado. Nada de novidade.
- 25% do tráfego: Leituras paralelas. Ambos são consultados. Se houver divergência, o legado vence e registramos o erro.
- 50% do tráfego: Agora, a projeção é prioridade. Mas, em caso de erro, voltamos para o legado.
- 100% do tráfego: Finalmente, todas as leituras vêm da projeção.
Este processo cuidadoso garante que o usuário jamais perceba uma falha durante a mudança.
Enquanto isso, você e sua equipe ganham a confiança estatística na exatidão das novas projeções.
É a migração segura de aplicações monolíticas para arquitetura de Event Sourcing em sua essência.
Quando os eventos reinam
Chegamos ao ponto de virada, à fase onde a arquitetura de Event Sourcing assume, de fato, a primazia.
Seu sistema não é mais um monólito com “sensores”. Ele se tornou um ser vivo, nativamente orientado a eventos.
A transição exige a substituição das velhas chamadas por comandos que forçam a regra de negócio através de um fluxo de eventos.
Sua nova linguagem de comandos
A mudança de um order.update! para um ShipOrderCommand.execute é mais do que uma alteração sintática. É uma revolução.
O comando se torna a única porta de entrada para solicitar uma mudança de estado em seu sistema.
Isso garante que a lógica de validação, no Aggregate Root, seja executada religiosamente antes que qualquer evento seja gerado.
É uma garantia inabalável de que a migração segura de aplicações monolíticas para arquitetura de Event Sourcing está completa.
O ciclo seguro de comandos
Um comando robusto deve seguir este ciclo rigoroso, quase um ritual:
- Recebimento do comando: Seu Command Handler capta a intenção.
- Carregamento do agregado: O Aggregate Root é reconstruído a partir de seus eventos.
- Validação de regras: O Agregado verifica se o comando é permitido em seu estado atual.
- Geração de eventos: Se tudo OK, o Agregado emite um ou mais eventos (Ex:
OrderShippedEvent). - Persistência atômica: Os eventos são enviados à Event Store.
- Notificação: A Event Store avisa os Subscribers sobre os novos fatos.
Se a persistência falhar, o comando falha, e nenhum estado é alterado. A verdade é preservada.
Cortando o cordão umbilical
Após comprovar a estabilidade das escritas via comandos, chega o momento: cortar o cordão umbilical com o passado.
A remoção do código legado de escrita deve ser vista como uma depreciação gradual, nunca um “big bang” explosivo.
O ponto de virada conceitual? Seu banco de dados de eventos se torna, inquestionavelmente, a Fonte da Verdade (SoT).
Implicações da fonte da verdade
- Reconstrução de sistemas: Qualquer novo serviço deve ser construído lendo apenas a Event Store.
- Fim da mutação direta: O acesso direto às tabelas antigas do monólito para escrita deve ser bloqueado.
- Dados estáticos: Dados de referência precisam ser migrados como eventos de “Setup” ou injetados como dados imutáveis.
O futuro do seu sistema
A jornada não termina aqui! A arquitetura de Event Sourcing, com seus benefícios, traz um trade-off importante.
Você ganha um histórico perfeito, mas “perde” a facilidade da consulta SQL clássica e instantânea.
Para que seu sistema seja confiável a longo prazo, as práticas de sustentação, como versionamento, são cruciais.
A história imutável dos eventos
Um erro comum, e perigoso, é tratar eventos como se fossem DTOs maleáveis. Eles são FATOS históricos.
Eventos jamais devem ser alterados. Apenas adicionados ou interpretados de forma diferente no futuro.
A regra de ouro imutável
Se um evento OrderPlaced v1.0 tinha certos campos, e a v2.0 precisa de mais, a v1.0 não muda!
Seu decoder da projeção é que precisa ser esperto: “Se vejo v1.0, atribuo um valor padrão para o novo campo”.
Estratégias de versionamento de eventos
- Versão explícita: Todo evento precisa ter um campo de versão (Ex:
Version: 2). - Padrão de adaptação (Upcasting): Implemente um mecanismo que transforme um evento antigo em sua versão mais recente apenas na memória.
Event store vs. message broker
Atenção aqui, isso é crucial! É vital entender que uma Event Store difere fundamentalmente de um Message Broker.
A confusão entre os dois leva a falhas na gestão de snapshots e no controle de concorrência.
- Event Broker (Kafka, RabbitMQ): Focado em throughput e garantia de entrega. Ele faz a mensagem chegar.
- Event Store (EventStoreDB): Focada na persistência do estado de um agregado. Sua função é fornecer o histórico completo.
Para um sistema de Event Sourcing maduro, você usará ambos. A Event Store para a verdade e o Broker para a publicação.
Garantindo velocidade e consistência
Para evitar o custo de reconstruir um agregado com milhares de eventos, os Snapshots são seu melhor amigo.
Um snapshot é um registro serializado do estado do Agregado em um ponto no tempo.
Quando um comando chega:
- O sistema carrega o Snapshot mais recente.
- Aplica apenas os eventos que ocorreram depois daquele snapshot.
Isso reduz drasticamente a latência de gravação. Mas uma verdade precisa ser aceita: Consistência Eventual.
Não espere que uma atualização apareça instantaneamente na projeção. Haverá um pequeno lapso.
A maturidade em Event Sourcing reside na sua capacidade de desenhar fluxos de UX que respeitem essa eventualidade.
Seu sistema, agora, é uma tapeçaria rica de eventos, cada fio contando uma história irrefutável.
Lembre-se, cada linha de código é um traço na história do seu produto. Que seja uma história grandiosa.
Construída com paixão, inteligência e a certeza de que você escolheu o caminho certo.
Estamos aqui para guiar cada passo da sua jornada de migração segura de aplicações monolíticas para arquitetura de Event Sourcing.
Perguntas frequentes (FAQ)
O que é Event Sourcing e quais os benefícios da sua migração?
Event Sourcing (ES) é uma arquitetura que redefine como um negócio pulsa, registrando cada ação como um fato imutável. Migrar para ES transforma a forma como o sistema é auditado e como o estado é revelado, oferecendo um histórico completo e inalterável de todas as operações, em contraste com a abordagem transacional de sistemas monolíticos.
Como priorizar quais partes do meu monólito devo migrar para Event Sourcing?
Utilize o “Eixo da Necessidade de Histórico” (ENH). Priorize domínios com: 1. Auditoria obrigatória (ex: transações financeiras), onde ES brilha na rastreabilidade. 2. Complexidade do estado (ex: múltiplas validações de fluxo). 3. Necessidade de reconstrução do estado passado para novas funcionalidades. Comece por áreas onde a dor do monólito é mais evidente e o histórico é crítico.
Qual o papel dos “invariantes de negócio” antes de iniciar a migração para Event Sourcing?
Antes de qualquer código, é crucial desvendar os “invariantes de negócio” que o sistema monolítico atual pode estar violando ou gerenciando mal. Focar neles ajuda a identificar as áreas onde o Event Sourcing trará o maior valor, como a garantia de integridade e a construção de um histórico de fatos que respeite essas regras essenciais.
Como garanto a segurança durante a “dança das duas verdades” na migração para Event Sourcing?
Esta fase, onde o sistema legado e as novas projeções convivem, exige a construção e validação rigorosa de projeções paralelas. Utilize validação transacional cruzada, garantindo que as divergências de estado entre o monólito e as projeções baseadas em eventos permaneçam abaixo de 0.01% por um período, antes de mover as leituras gradualmente através de um processo de implantação canário.
Qual a diferença fundamental entre um Event Store e um Message Broker?
Um Event Store (como EventStoreDB) foca na persistência do estado de um agregado, fornecendo o histórico completo de eventos de uma entidade para reconstruir seu estado e garantir concorrência. Já um Message Broker (como Kafka) é focado em throughput e distribuição, garantindo que as mensagens cheguem aos consumidores. Em Event Sourcing, ambos são usados: o Event Store para a verdade do domínio, e o Message Broker para publicar eventos para fora do domínio.
Como gerenciar a imutabilidade e o versionamento de eventos em Event Sourcing?
Eventos são fatos históricos imutáveis; eles jamais devem ser alterados, apenas adicionados. Para evoluir a estrutura de um evento, use versionamento explícito (campo de versão no evento) e o padrão de adaptação (Upcasting). Isso permite que decoders de projeções transformem eventos antigos para a versão mais recente em memória, mantendo o histórico original inalterado.
Quando o banco de dados de eventos se torna a única Fonte da Verdade (SoT)?
A Event Store se torna a Fonte da Verdade após comprovar a estabilidade das escritas via comandos e a sincronia contínua das leituras via projeções. Neste ponto, o código legado de escrita é depreciado, o acesso direto às tabelas antigas para modificação é bloqueado, e qualquer novo serviço ou relatório é construído lendo exclusivamente a Event Store.
