Palma forrageira: pastejo direto ou servir no cocho?

Entre pastejo direto e fornecimento no cocho, descubra qual manejo da palma forrageira garante mais aproveitamento, saúde animal e produtividade no semiárido.

Escrito por Redação
9 min de leitura

A palma forrageira, pilar da pecuária no semiárido, oferece uma base alimentar resiliente e energética. No entanto, a forma como essa forragem é disponibilizada ao rebanho determina a fronteira entre um sistema de subsistência e uma produção zootécnica eficiente e lucrativa.

A decisão entre permitir o pastejo direto dos animais no palmal ou adotar o sistema de corte e fornecimento no cocho é um dos pontos de manejo mais críticos e impactantes para qualquer produtor.

À primeira vista, o pastejo direto pode parecer a opção mais natural, simples e econômica, exigindo menos mão de obra e infraestrutura. Contudo, uma análise mais aprofundada revela que essa aparente simplicidade esconde custos elevados em desperdício e degradação, especialmente quando não há um manejo adequado.

Por outro lado, o sistema de corte e fornecimento no cocho, embora mais trabalhoso, representa uma abordagem técnica que maximiza o aproveitamento do alimento, a saúde do rebanho e o retorno financeiro.

Este artigo detalha as duas metodologias, expondo as vantagens, desvantagens e, crucialmente, o papel da gestão em cada uma, para que o produtor possa tomar uma decisão informada, estratégica e alinhada com os objetivos de sua propriedade.

O sistema de pastejo direto: a armadilha da simplicidade

O pastejo direto consiste em permitir que os animais entrem na área cultivada e consumam a forragem diretamente da planta. É fundamental distinguir entre o pastejo contínuo (largando os animais na área toda) e o pastejo rotacionado (dividindo a área em piquetes). A viabilidade do sistema depende inteiramente dessa gestão.

As supostas vantagens do pastejo direto

Os defensores deste método citam a economia de recursos como seu principal atrativo:

  • Baixa exigência de mão de obra: Elimina a necessidade de cortar, picar e transportar a forragem diariamente.
  • Redução de investimento em equipamentos: Dispensa a compra de uma máquina forrageira.
  • Menor infraestrutura: A necessidade de cochos é minimizada ou eliminada, embora exija investimento em cercas para a rotação.

As desvantagens no sistema contínuo e os custos ocultos

Quando o pastejo é feito de forma contínua, sem rotação, as desvantagens são severas e comprometem o sistema:

  1. Desperdício massivo de forragem: A perda de alimento pode ultrapassar 50%. Os animais pisoteiam e danificam os cladódios, que se contaminam com terra e fezes. O consumo é desuniforme, com preferência pelos brotos mais tenros.
  2. Impossibilidade de controle nutricional: É praticamente impossível garantir que os animais consumam a suplementação necessária para corrigir as deficiências de proteína e fibra da palma. Isso leva à perda de condição corporal e ao risco elevado de distúrbios metabólicos, como a acidose ruminal.
  3. Degradação acelerada do palmal: O pisoteio constante compacta o solo e os animais danificam a estrutura das plantas de forma desordenada, consumindo as gemas de brotação, o que compromete a recuperação e a produtividade futura do palmal.
  4. Riscos sanitários elevados: O contato direto com o solo e fezes aumenta o risco de infestação por parasitas gastrointestinais (verminoses).

O manejo como chave: o potencial do pastejo rotacionado

Como você bem apontou, a gestão pode transformar o pastejo direto. O sistema rotacionado, onde o palmal é dividido em piquetes e os animais mudam de área periodicamente, mitiga muitos dos problemas e introduz benefícios importantes:

  • Recuperação do palmal: O período de descanso é a principal vantagem. Enquanto os animais estão em um piquete, os outros se recuperam, rebrotam e reconstituem suas reservas. Isso garante a sustentabilidade e a perenidade da área.
  • Adubação natural: O esterco e a urina dos animais são distribuídos de forma mais uniforme nos piquetes, funcionando como uma adubação orgânica e gratuita que melhora a fertilidade do solo.
  • Adensamento natural: Os cladódios que se desprendem e caem no solo (o que seria desperdício) têm a chance de enraizar durante o período de descanso do piquete, originando novas plantas. Com o tempo, isso pode aumentar a densidade do palmal, elevando a oferta de forragem.

O grande segredo, como mencionado, está na gestão: definir o tamanho correto dos piquetes, o número de animais por área e, principalmente, o tempo de ocupação e de descanso, que deve ser rigorosamente respeitado.

O sistema de corte e fornecimento no cocho: a escolha pela eficiência

Este sistema, também conhecido como “cut and carry”, envolve a colheita diária dos cladódios, o processamento em máquina forrageira e o fornecimento em cochos.

Os desafios do sistema de cocho

  • Maior exigência de mão de obra: Requer uma rotina diária de colheita, processamento e distribuição.
  • Investimento inicial: É necessária a aquisição de uma máquina forrageira e a construção de cochos.

As vantagens decisivas do fornecimento no cocho

  1. Aproveitamento integral da forragem: O desperdício é praticamente nulo (próximo de 100%). Uma mesma área de palmal pode alimentar um número muito maior de animais.
  2. Controle nutricional absoluto e preciso: Esta é a maior vantagem estratégica. O cocho permite a formulação de uma dieta completa, misturando a palma com fontes de proteína, fibra e minerais de forma homogênea. O resultado é uma Ração Total Misturada (TMR), garantindo que cada bocado seja balanceado.
  3. Maximizaçāo do desempenho animal: Com uma dieta de precisão, os animais expressam seu máximo potencial genético. A conversão alimentar melhora drasticamente, resultando em maior produção de leite e ganho de peso mais rápido.
  4. Sustentabilidade e longevidade do palmal: A colheita é feita de forma seletiva, respeitando a fisiologia da planta. Não há compactação do solo, garantindo a alta produtividade do palmal por décadas.
  5. Melhora na sanidade e no manejo do rebanho: Reduz o contato com parasitas e permite a observação diária individual dos animais, facilitando a identificação de problemas de saúde.

Tabela comparativa: Pastejo direto vs. Fornecimento no cocho

CritérioPastejo Direto (Manejado)Corte e Fornecimento no Cocho
Aproveitamento da ForragemMediano a BomExcelente (95-100%)
Controle da DietaLimitadoTotal e Preciso
Eficiência ProdutivaMedianaAlta a Máxima
Risco de AcidoseModerado a AltoBaixo (controlado com fibra)
Sustentabilidade do PalmalBoa (com manejo rigoroso)Alta (longevidade da área)
Investimento InicialBaixo (cercas)Moderado a Alto (máquina)
Custo com Mão de ObraBaixoAlto
Retorno sobre o InvestimentoModeradoRápido e Elevado

Uma decisão estratégica pela produtividade

A escolha entre o pastejo direto — mesmo em sua forma manejada e rotacionada — e o fornecimento no cocho é, em essência, uma escolha entre um sistema semi-intensivo e um sistema de produção intensivo e controlado. O pastejo rotacionado é uma evolução imensa sobre o pastejo contínuo, tornando-se uma alternativa viável e sustentável.

Contudo, para o produtor que busca o máximo controle nutricional, a mais alta eficiência de conversão alimentar e o maior retorno produtivo por hectare, o sistema de corte e fornecimento no cocho continua sendo a abordagem tecnicamente superior.

Ele transforma a planta em um superalimento, serve como base para uma nutrição de precisão e impulsiona o desempenho do rebanho a patamares superiores, representando um passo fundamental para um negócio pecuário moderno e verdadeiramente sustentável.

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