A palma forrageira é uma solução fantástica para a alimentação animal no semiárido, mas uma de suas características mais notórias pode ser um grande obstáculo: os espinhos. Lidar com eles não é apenas uma questão de conforto, mas de segurança para o trabalhador e, principalmente, para a saúde dos animais.
Espinhos podem causar ferimentos sérios na boca, língua e trato digestivo do rebanho, levando a inflamações, infecções e até à recusa do alimento. Felizmente, existem estratégias eficazes para eliminar ou minimizar esse problema, garantindo que apenas os benefícios da palma cheguem ao cocho.
A solução definitiva: a escolha da variedade
A maneira mais eficiente e inteligente de resolver o problema dos espinhos a longo prazo é começar pelo básico: o plantio. A genética é a sua maior aliada.

Opte por variedades sem espinhos ou com poucos espinhos
O melhoramento genético nos presenteou com variedades de palma forrageira que são naturalmente “inermes”, ou seja, sem espinhos, ou que possuem apenas espinhos rudimentares e inofensivos. Ao escolher essas cultivares, você elimina a maior parte do trabalho e do risco associado à remoção.
Variedades recomendadas:
- Orelha de Elefante Mexicana: É uma das mais populares justamente pela ausência quase total de espinhos, além de sua alta produtividade.
- Miúda (ou Doce): Outra variedade tradicional, conhecida por ter poucos e pequenos espinhos, sendo muito bem aceita pelos animais.
- IPA Sertânia: Desenvolvida para ser resistente à cochonilha-do-carmim, também possui a vantagem de ter poucos espinhos.
Investir nessas variedades no momento da implantação do palmal é a decisão mais estratégica, pois reduz drasticamente a necessidade de mão de obra e equipamentos para o manejo dos espinhos no futuro.
Métodos de remoção de espinhos
Se o seu palmal já é formado por variedades com espinhos, ou se mesmo as variedades melhoradas apresentam alguns, é preciso adotar métodos para removê-los antes de servir aos animais.

1. Queima dos espinhos
Este é o método mais comum e prático para lidar com grandes volumes de palma. Utiliza-se um lança-chamas a gás para queimar e eliminar os espinhos diretamente nas raquetes colhidas.
- Como funciona: As raquetes são amontoadas em um local seguro, limpo e longe de material inflamável. O operador passa a chama do maçarico rapidamente sobre a superfície das palmas. Os espinhos, por serem finos e secos, queimam e se desintegram instantaneamente.
- Vantagens: É um método rápido, eficiente para grandes quantidades e esteriliza a superfície da palma.
- Desvantagens: Exige um investimento inicial no lança-chamas e custos contínuos com o gás (GLP). Requer muito cuidado no manuseio para evitar acidentes e queimaduras. É preciso ter atenção para não “cozinhar” a palma, passando a chama de forma rápida.
2. Trituração em forrageira

O processo de picar a palma em uma máquina forrageira já ajuda a eliminar ou quebrar grande parte dos espinhos, especialmente os menores e menos rígidos.
- Como funciona: A raquete inteira é inserida na forrageira. A força mecânica das facas tritura não apenas a palma, mas também os espinhos, que são pulverizados ou quebrados em pedaços tão pequenos que não oferecem risco aos animais.
- Vantagens: Otimiza o trabalho, pois o corte e a remoção dos espinhos acontecem na mesma operação. Facilita o consumo e a digestão para o animal.
- Desvantagens: Pode não ser 100% eficaz para variedades com espinhos muito grandes e duros. A máquina precisa ser robusta e estar com a manutenção em dia.
3. Raspagem manual

Para pequenas quantidades ou para consumo humano (do “palmito” da palma), a raspagem manual com uma faca é uma opção.
- Como funciona: Com a palma apoiada em uma superfície, utiliza-se uma faca bem afiada para raspar e “barbear” os espinhos da superfície da raquete.
- Vantagens: Não tem custo com equipamentos ou combustível.
- Desvantagens: É um processo extremamente lento, trabalhoso e inviável para alimentar um rebanho. O risco de acidentes com a faca é considerável.
A importância do manejo seguro e do EPI
Independentemente do método escolhido, a segurança do trabalhador deve ser sempre a prioridade. Os espinhos da palma, especialmente os gloquídios (espinhos minúsculos e quase invisíveis), podem causar irritações severas na pele e nos olhos.
Use Equipamento de Proteção Individual (EPI): É indispensável o uso de luvas de couro grossas, camisas de manga comprida, óculos de proteção e calçados fechados durante a colheita, transporte e processamento da palma.
A melhor estratégia é a combinação
Para uma eficiência máxima e segurança total, a melhor abordagem é combinar as técnicas:
- Comece certo: Plante variedades com poucos ou nenhum espinho.
- Processe na forrageira: Use a máquina para picar a palma, o que já resolverá a maior parte do problema.
- Use o fogo se necessário: Se após a trituração ainda restarem espinhos visíveis, uma rápida passada com o lança-chamas no material picado pode finalizar o trabalho.
- Trabalhe sempre protegido: O uso de EPI não é negociável.
Conclusão
Os espinhos não precisam ser um impedimento para o uso da palma forrageira. Com o planejamento correto desde o plantio e a adoção de técnicas de manejo seguras e eficientes, é perfeitamente possível oferecer um alimento de alta qualidade, limpo e seguro para os animais. Eliminar o risco dos espinhos é garantir o bem-estar do rebanho e otimizar o aproveitamento desta que é a planta mais estratégica para a pecuária no semiárido.